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sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Não sou o meu nome...

Não sou o meu nome,
nem minha foto.
Não sou mulher, não sou homem,
nem meus projetos. Sou meus afetos.
Sou o que sinto, também o que minto.
Sou minha irmã, meu irmão.
Sou aquela vizinha,
a que faz a faxina, também sou o patrão.
Compadres, parentes, madrinhas,
aquele que pede esmola,
o sem teto, sem o pão.
O que reza e o que chora,
o que ri, o que implora,
alguém que lhe aperte a mão.
Aquele que dá, que recebe,
e nem de longe percebe
que tudo é mera ilusão.
Sou a saúde, a doente,
sou o bandido, o ladrão.
Sou o que planta a semente
de pés descalços no chão.
Sou passos nas passarelas
e ao redor do fogão.
Sou a criança mimada,
sou a voz da experiência
que grita feito trovão.
A voz que não é ouvida,
que se cala, ressentida,
sem nunca estar com a razão.
Sou o tumulto no dia,
sou o ciúme que mata,
o crime que ronda a noite,
a madrugada sombria,
sou a palavra insensata
que clama pelo perdão!
Sou a moça na janela
entristecida a espiar,
cicatrizando as feridas,
olhando o tempo passar.
Sou o bebê que não cansa
do peito farto a mamar.
Sou a vigília exaurida
na noite que vai e vem
pra consertar os estragos
das muitas dores de alguém.
Sou também flores e frutos,
rosa vermelha em botão
que desabrocha formosa,
sem pudor, no teu quintal.
Tanta coisa que eu sou...
A maçã que é mordida,
no paraíso perdida
sou um pecado mortal!
Sou meigos gestos de afagos,
sou braços de embalar,
sou as mãos que acariciam
o cabo da enxada a lavrar.
Mas também eu sou a festa,
brinco todo o carnaval,
sou a mulher que não presta,
que se entrega ao que é banal.
Sou também melancolia,
sou toda a grande alegria
de um pássaro cantante.
Água que corre adiante,
pura, clara, cristalina,
que assombra qualquer retina.
Sou tudo isso, bem sei.
Mas, muito além, eu serei
nada mais que luz eterna
sem um princípio nem fim.
Somente dona de mim,
sem solidão, afinal,
rodopiando sem tempo
pelo espaço sideral.
Enquanto a hora não chega,
do encontro comigo mesma,
nesse vôo triunfal,
vou carregando a certeza
que só no amor há beleza
de luzes, cores e som,
crendo que o amor é possível
e que amar é tão bom!

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